terça-feira, 29 de agosto de 2017

RAUL, SATUBA E ROSINA

RAUL, SATUBA E ROSINA
Clerisvaldo B. Chagas, 30 de agosto de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.726

RIO IPANEMA. Foto: (Clerisvaldo B. Chagas).
“Sou fervoroso adepto da vida na roça. Desde cedo, corpo e alma dediquei-me à plantação, a criação e aos livros. Viver, como ora vivo, em contato direto com a Natureza, ouvindo canto de pássaros livres da floresta, à noite, o sussurro do Ipanema no declínio poético de suas cheias, aspirando o cheiro que se exala da floração dos arbustos que cercam a minha casa e bordam, ainda, as margens do rio, tudo isso, francamente, me parece o sopro de Deus-Vivo embalando a minha própria existência, e o mundo santo da espiritualidade. Sou, portanto, um homem feliz”.
Certa vez encontrei esse personagem no livro de Raul Pereira Monteiro, “Espinhos na Estrada”, publicado em 1999. Referindo-se aos seus costumes de criança, Raul fala das caminhadas que fazia para vê as borboletas esvoaçantes da periferia de Santana do Ipanema. Curioso em vista de alguns boatos, lá no rio, no lugar Volta do Ipanema, resolve desvendar o mistério de um ser solitário chamado Satuba. Descobrindo que Satuba não era assustador como imaginava, mas sim, um doce roceiro intelectualizado e poético que lhe relata o motivo de viver solteirão. Fala do único amor da sua vida com a desastrada Rosina, rompido por ele mesmo. Raul conversa bastante com Satuba.
Adepto também das caminhadas no entorno da minha cidade, fui à Volta lembrar o Satuba apaixonado de cerca de meio século atrás. Nada encontrei que tivesse a menor relacionamento com o roceiro. Nada de Raul para apontar o dedo para algum sítio daqueles e afirmar: “Era ali a morada do romântico”. E assim os sertões estão cheios de histórias esquisitas, algumas capturadas por escritores tão sensíveis quanto os atores naturais encontrados nas quebradas.
      A simplicidade da história bem conduzida faz o pequeno ficar grande na Literatura. Vejamos o desfecho do caso, novamente passando à palavra ao autor:

“No caminho de casa, eu disse de mim para mim, baixinho, mentalmente mesmo, como se temesse fosse o meu pensamento interceptado por alguma viva alma. ‘Fique tranquilo, Satuba’. Eu também sou um covarde – não tive a coragem de lhe transmitir esta outra mensagem, tão sincera, do meu espírito. Você não é como disse, privilegiado nem homem feliz, sob nenhum aspecto. Você é, isso sim, um triste apaixonado”.

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