segunda-feira, 14 de novembro de 2016

OS VELHOS SOLDADOS

OS VELHOS SOLDADOS
Clerisvaldo B. Chagas, 15 de novembro de 2016
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.591

ILUSTRAÇÃO (kitpresentes.com).
Ele ainda fardado eu o vejo a minha frente, bucho redondo, olhos grandes e mortiços, o velho praça Gonçalo. Revejo o guerreiro na luta do pão diário como vigia da praça, com um trocado daqui e dali diante do mesmo olhar mortiço da ativa. Na porta da Matriz da Padroeira, colegas importantes de Gonçalo. Leôncio, Charuto, Cícero... E na calçada da loja Faixa Azul, Idelfonso, o Fonfon, “homem de confiança de Lucena Maranhão”, segundo ele próprio. Gonçalo, Cícero, homens que chegaram numa idade respeitável, sabendo conviver com feras fardadas, presos perigosos e tino social. Estavam ali vendo o tempo passar, admirados por todos.
Charuto, preto retinto, calado dos olhos dançantes, estivera em Angicos na madrugada do dia 28 de julho de 1938, o dia fatídico para o cangaço.  Leôncio, alto e agitado, servira em Piranhas, como cabo da polícia. Com receio de uma investida do comandante João Bezerra, fora servir no quartel de Santana, mais perto de Lucena.
Sempre mais afastado e só, perambulava Fonfon. Chapéu de palhinha tipo caubói, lenço vermelho no pescoço, cartucheira pendida por arma de fogo, puxava uma perna e fumava sem parar. Tinha fama de bom atirador. Alto, branco e seco, parecia ainda não ter esquecido o comando de José Lucena de Albuquerque Maranhão.
A falta de pesquisas, o não despertar para entrevistas longas sobre “as forças”, o quartel, as ordens da época e o mundo cangaceiro, deixou que se fosse com eles enorme pedaço da história.
As eras foram pesando nos malotes e Deus carimbando as remoções, pouco a pouco, desertificando a entrada da Matriz. E ficam nas crônicas de alguém à memória dos guerreiros dos tempos rígidos. Mesmo que seja nos farrapos de versos do repentista João Cabeleira fazendo tema para Idelfonso: “Fonfon foi de confiança de Lucena Maranhão”: Generoso no pagamento do mote pedido, entre outras estrofes, ouviu de si com intensos aplausos:

“Este homem era valente
Nunca temeu a ninguém
Com sua força de trem
Era chamado serpente
Com inimigo na frente
Urrava que nem leão
Dava tiro de canhão
Que abalava até a França
Fonfon foi de confiança
De Lucena Maranhão”.

Saudade!...






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