domingo, 25 de janeiro de 2015

CORONEL, PRUDÊNCIA E CASCAVÉIS



CORONEL, PRUDÊNCIA E CASCAVÉIS
Clerisvaldo B. Chagas, 26 de janeiro de 2015
Crônica Nº 1.352

Foto ilustração: (br.vazion.com).
Caderno e lápis à mão tínhamos que cumprir o dever. Como entrevistar pessoas na fazenda do famoso coronel do sertão? O que dizer à porteira da fazenda do homem que metia medo até em governadores? Aquele coronel se tivesse contabilidade, já deveria ter eliminado muito mais de quinhentas pessoas. Sua fama corria mundo. Os famosos fazendeiros do gatilho entravam em declínio nos anos 60, mas o dono absoluto do alto sertão ainda espalhava medo desde aos mais frágeis das cabanas aos mais pomposos do palácio.
Baseados na fé, no trabalho decente e numa conduta responsável, todavia, tínhamos que enfrentar a fera na própria toca. Não se deve sofrer muito por antecipação e a boa conduta abre todas às portas. Em primeiro lugar não podíamos demonstrar medo; segundo, não chamar o homem de coronel, ele detestava e, nós sabíamos dessa particularidade. E em terceiro lugar comportar-se normalmente como se estivéssemos diante de pessoas comuns.
Na entrada da fazenda, por tudo que se dizia, esperávamos encontrar, no mínimo três ou quatro capangas. Não havia um sequer. Nada também de correntes e cadeados. Avançamos rumo à casa-grande num extenso império de terras na caatinga.
A capangada armada até os dentes deveria estar no pátio da casa. Mas, como a porteira de entrada, nada de capanga na sede. Apenas dois belos cavalos brancos amarrados à sombra. O coronel de terno e chapéu branco, fazendo pose com charuto grosso, ficou apenas na literatura robusta e cangaceira.
Um empregado trajado humildemente nos recebeu e logo saiu o coronel do interior da casa, parecendo tão humilde quanto o morador. Foi à terceira surpresa. Cumprimento de praxe, dissemos que estávamos fazendo o Censo demográfico. O homem, sem nenhuma pergunta falou que poderíamos ir para o lugar indicado, algumas casas juntas que ficavam a cerca de 2 km da sede. O coronel falou apenas que era longe e, disse ao morador que selasse os dois cavalos. Fomos e voltamos, eu e o companheiro, em animais que pareciam dois automóveis. Fizemos o nosso trabalho, agradecemos pelas cortesias e deixamos à fazenda da mesma maneira que entramos.
Como foi dito, não havia terno branco, não havia capangas, não havia arrogância. Mas quem quiser esqueça a verdade e brinque com cascáveis criadas nos lajeiros!

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