quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A MORTE COMANDA OS TANQUES



A MORTE COMANDA OS TANQUES
Clerisvaldo B. Chagas, 26 de dezembro de 2013
Crônica Nº 1112

FILA DOS PIPEIROS À INSPEÇÃO, DOMINGO PASSADO EM SANTANA DO IPANEMA. Foto: (Clerisvaldo).
Vivendo dias difíceis na estiagem prolongada, o Sertão de Alagoas quis amenizar as dores. Parte do Agreste, seu vizinho geográfico, também sofria às agruras das chuvas escondidas. Movem-se autoridades, cantam as acauãs, padecem os sertanejos. Nos garranchos transformados da fazenda, orneja o jumento, escondem-se os sapos, disfarçam-se as rãs. Acovardam-se as brisas que não embalam o facheiro, o mandacaru, as touceiras de alastrados. Comandam os ares secos o gavião, o carcará em busca dos viventes pequenos. Corre a seriema, escapa o preá, emboca o mocó na macambira.
No braseiro diurno matador, na calma das noites tenebrosas, nas horas infantis das madrugadas, roncos de motores rompem os ares. São caminhões-pipas salvadores contaminados em busca de vítimas angustiadas. Ignorantes, inocentes, mal-intencionados, dirigem os motores que procuram gente.
O enchimento de hospitais com internações e óbitos, levaram  ao ar as denúncias da televisão às autoridades que dormiam em berço esplêndido, até o estouro da bomba no Fantástico. O nome do Exército foi citado, causando perplexidade à população que sempre apostou na eficiência e seriedade das Forças Armadas. Depois das eras de ditaduras e denúncias às mais diversas, as Forças começaram a se firmar no conceito do povo, assim como outras pouquíssimas instituições nacionais que têm crédito nas ruas do Brasil. Qualquer coisa que envolva dinheiro em movimento público não pode deixar de ser fiscalizada com rigor, pois, se nos próprios países que alcançaram altos índices no respeito à coisa pública, ainda existe falha, quanto mais em terras caetés. Foi preciso que o ronco dos motores, pneus em farofa e tanques envenenados, ceifasse a vida de 37 sertanejos e um berro fogoso da grande Imprensa para que a seriedade voltasse às nossas plagas.
Apesar de todo respeito do cidadão, o exército saiu arranhado desse lamentável episódio. Sobre os governantes nem se fala! Todo mundo já conhece o estado em que nasceu, vive e sofre, sem esperança alguma no horizonte.
E hoje, apesar de passar nas estradas caminhões com pipas que parecem novas, fica uma desconfiança ainda latejante e o sertanejo diz baixinho: A MORTE COMANDA OS TANQUES.

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