terça-feira, 23 de julho de 2013

HOMENAGEM A ANA



HOMENAGEM A ANA
Clerisvaldo B. Chagas, 23 de julho de 2013.
Crônica Nº1054

Dia 23 de julho. Chove em Santana do Ipanema nesta madrugada festiva da padroeira. Enquanto o Papa Francisco vai descansar da longa viagem e da calorosa recepção de ontem, no Brasil, o foguetório das seis horas espoca em céus alagoanos. Prossegue a programação tradicional do novenário, relembrando edições de esplendor e glória à dona das nossas terras. Dentro das lembranças particulares dos devotos sertanejos, a fartura dos campos é associada ao inverno salvador. Mudam-se os aspectos profanos entre o serrote do Cruzeiro e a imponente Matriz que vê os montes. A essência permanece nos corações dos que buscam paz e esperança no cruzar templário dos batentes. Prédio iluminadíssimo, vozes que se elevam, neblina que se abaixam, refletem louvores a quem atravessa às nuvens. O calendário vai armazenando histórias populares com os marcantes dias do sétimo mês. E os balões fantasmagóricos ressurgem por trás do virtual “sobrado do meio da rua”, da onda, do curre, acompanhados por foguetes e risos da meninada. Filme do tempo no centro peregrino de conquistas.
Foi há muito, quando o senhor Caiçara era sacristão do padre Bulhões. O Benedito Caiçara que matou um dos irmãos Porcino, a pedrada, e o pai do futuro Lampião, em diligência policial. O mesmo homem que se tornara, depois, auxiliar do padre, quando aconteceu. Bulhões, adoentado, foi substituído por um colega de Viçosa que amava o jogo de bozó. A nave repleta aguardava o início da missa, durante noite de Senhora Santa Ana. A hora chegava e o padre não aparecia na igreja. Mandaram o sacristão procurá-lo nas bancas de jogo que ornavam a festa. Encontrado e alertado para a hora da missa, o vigário viciado retrucou que estaria indo. Somente após três idas e voltas do sacristão, o padre de Viçosa, amante dos dados, respondeu balançando e soprando os bozós para lançá-los ao pano verde da mesinha: “Caiçara, se o povo bem soubesse o que era u’a missa celebrada por mim e auxiliada por você, não daria por ela destões furado!”.
Vai passando a nova edição de festejos à padroeira; mas os quadros da Praça e do Largo do Mercado estão registrando novas peças do folclore nordestino. A chuva compassada faz amanhecer e os pardais danam-se numa cantoria só. Hoje é descanso do Papa, hoje é mais um dia de HOMENAGEM A ANA.

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