segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

1808

1808
(Clerisvaldo B. Chagas, 8 de fevereiro de 2011)

       Na verdade, eu nem estava ligado ao assunto, quando a campainha toca. Vejo diante de mim, nada mais nada menos do que o embaixador do Mato Grosso do Sul, santanense verdadeiro, João Neto de Dirce, o “Primo Vei”. A saudade havia batido às costas do cabra e ele resolveu vir reparar de perto amigos, pedaços de caatinga e os balanços dos mandacarus. Veio rezar o Credo na igrejinha do Cruzeiro, comer bode assado no Bairro Camoxinga e tomar uma pinga da ancoreta de imburana-de-cheiro, perto da Rua Nova. Na certa lembrava as serras do Gugi, Gonçalinho, Camonga, as águas do poço dos Homens... Os jogos de ximbras da Rua do Sebo. Eita Primo Vei, lá fora é que a gente sente o amor sertanejo espezinhar o coração. Saudades da moreninha debruçada na janela, do ornejar do jumento ao meio-dia, do cuscuz com leite à boca da noite. Como você podia resistir lá em Sidrolândia às lembranças dos plangentes violões da Rua Tertuliano? E o ressoar de vozes masculinas apaixonadas, pelas noites musicais. Como podia jogar fora os invernos friorentos e tristonhos do mês de julho? A solidão das ruas nas madrugadas enfeitiçadas de Santana, o sereno de junho sobre as fogueiras de São João ou o chiado da sanfona velha no cabaré do Olegário?
       Houve troca de presentes. O embaixador presenteou-me com dois livros e, um deles já o devorei. Trata-se de (GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil. 2. ed. São Paulo, Planeta, 2010). O outro é a continuação e tem como título: 1822. Estamos recomendando estes livros aos nossos leitores, principalmente aos que procuram entender o Brasil da época. Finalmente surgiu no mercado esse excelente livro, 1808, do ilustre jornalista Laurentino Gomes, para os que já estavam com saudade de uma leitura informativa, rica e agradável. Os dez anos de pesquisa do autor sobre a família real, vem com uma leitura objetiva, clara, que foge do colorido literário, nessa narrativa da história. Quando o leitor estiver lendo e não quiser largar o livro, prova que o livro é bom. Todo o esforço do jornalista ─ que tem uma rica biografia ─ compensou o seu trabalho. O livro traz a lume questões importantíssimas, importantes e aparentemente menos importantes. Porém, nada é menos importante na apresentação de Gomes que descreve o modo de vida no Rio de Janeiro, a comida, a higiene, a escravidão, as prostitutas, as “piniqueiras” e muito mais. O livro é riquíssimo sobre a época, um verdadeiro tesouro de tantos pedaços que formam o todo. Irei apreciar agora o 1822. O embaixador levou para o Mato Grosso do Sul, uma pintura em tela de autor santanense, para a apreciação de Sidrolândia sobre o talento nordestino. O Primo Véi, desapareceu tão misteriosamente como surgiu. Será que ele esteve mesmo por aqui? Bem, pelo menos ao meu lado estão as provas: 1822 e
1808.








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