sexta-feira, 22 de outubro de 2010

ABALOS DO CÉU

ABALOS DOS CÉUS
(Clerisvaldo B. Chagas, 21 de outubro de 2010)
     Quem quiser que diga, compadre, que não tem medo de trovão. Nem estamos nos referindo aos personagens Ana Raio e Zé Trovão de uma novela que passou. Falamos de trovoada de verdade, fenômeno atmosférico, sucessão de descargas elétricas acompanhadas de trovões e chuvas. É até difícil encontrar romancistas que escrevem sobre sertões que não façam capítulo especial dedicado a trovoada. O fenômeno, pelo menos no interior nordestino de clima semi-árido, acontece entre novembro e janeiro. Quando o inverno é fraco ou sem chuvas, as trovoadas passam a ser a esperança e salvação do homem do campo. Durante essa época de seca, barreiros, açudes e poços de riachos nada mais tem a oferecer. A fome começa a tomar conta de homens e animais. O sertanejo passa a olhar o céu de instante a instante pedindo a Deus boas nuvens escuras para molhar o chão. A água que enche todos os reservatórios traz a chamada babugem, ervas que nascem após as primeiras águas na terra. Queremos dizer que o fenômeno da zoada e das faíscas elétricas é de fato uma festa comemorada com muita alegria. Entre um inverno e outro o espaço é longo e o Sol forte sertanejo não respeita a primavera, vai queimando também a próxima estação. As trovoadas funcionam como uma espécie de equilíbrio que a Natureza oferece ao agricultor, aos criadores, aos que vivem da agropecuária. Quando a trovoada vai se formando ou mesmo antes da formação, é acusada pelo gado. Algumas reses começam a pular e outras a cavar o chão, imediatamente notadas pelos proprietários.
     A região de Santana do Ipanema, médio Sertão das Alagoas, teve até um bom inverno. Inclusive, chuvas que se prolongaram pela primavera. Mas, meu compadre, esse mês seco chamado outubro, foi visitado por uma violentíssima trovoada que botou muita gente para debaixo da cama. Na tarde de ontem, por volta das quinze horas e quarenta minutos, começou a cair água do céu, acompanhada de relâmpagos espetaculares e ribombar de trovões fortíssimos e sequenciados, nunca escutados antes por aqui. Rapidamente a tarde escureceu e nuvens muito escuras não paravam o fabrico no céu agitado. Os estrondos dos trovões, além de irem a última escala, ainda rasgavam complementando a missão extraordinária do espaço. Não ficou um só cachorro nas ruas. Muitos corajosos não saíram de casa. Poucas foram as residências onde as águas não entraram. Faltou energia e as enxurradas fizeram córregos despejando no rio Ipanema. Os clarões descomunais prosseguiram no firmamento até, aproximadamente, às dezenove. Mais de três horas de espetáculo natural, comadre. É de se perguntar com a gíria do povo: tá bom ou quer mais? Um amigo do sítio disse que isso aí era São Pedro irritado com a campanha política.
     Como as pessoas já estavam reclamando do Sol forte de primavera, houve uma antecipação do “décimo terceiro” do céu de verão. O agricultor fala em encher a palma, em reforçar a rama em calibrar os barreiros. Para o comércio local pode ser prenúncio de ótimas vendas natalinas. Aguardemos os próximos ABALOS DOS CÉUS.

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