segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O PORQUINHO

O PORQUINHO
(28 de setembro de 2010)
     Em Santana do Ipanema, morou a família Panta, cuja pessoa mais conhecida era o Zé Panta. Moreno alto, forte, humorista de situações, o Zé trabalhava no DNER, órgão federal, hoje, com o nome DNIT. Muitas passagens divertidas já foram contadas a respeito desse exímio tocador de violão. As irmãs que moravam no Bairro São José, vendiam flores naturais do próprio jardim. A casa em que moravam foi demolida recentemente, onde surgiu a construção de nova residência. A última vez que ouvi falar do aposentado e violonista foi que o homem continuava morando em Maceió. Contou-me certa feita seu amigo de repartição Ermídio, que um engenheiro residente fizera boas amizades com os funcionários, em Santana. Depois o engenheiro foi morar na capital, deixando somente boas lembranças na “Rainha do Sertão”. Zé Panta, porém, indo a Maceió, lembrou de levar um presente para o ex-chefe. Preparou um bacorinho vivo e bateu à porta do engenheiro. Conversa animada vai, conversa animada vem, porquinho debaixo do braço. O engenheiro disse que não levasse a mal, mas não dava para aceitar o presente ofertado com tanta gentileza, porque ele estava vendo, morava em apartamento. Centros, fotos, cortinas, jarros... Enquanto isso, bacorinho estressado, grunhindo, querendo correr. Panta não se deu por vencido, despediu-se do amigo, desejou boa sorte e na hora de saída jogou o porquinho dentro do apartamento arrumado, dando o fora com passos de sete léguas.
     É notório que as religiões pregam “fazer o bem sem olhar a quem”. Não se pode dizer que é fácil realizar essa máxima porque a maioria dá com a mão direita para receber com a esquerda. Mas existem pessoas ─ e não são poucas ─ que trazem no sangue o prazer de servir. Conheci muitas dessas criaturas iluminadas que nada pediam em troca e ainda abençoavam de coração ao beneficiado com o “vá com Deus” de quem tem amor e só amor dentro do peito. Mas tem uns que servem, chicoteiam, desconfiam e tornam-se carrascos. Fazem lembrar o que estava na prisão por não poder pagar. Pede misericórdia é e atendido. Uma vez solto, vai cobrar do seu devedor que ainda não pode lhe quitar a dívida e ameaça-lhe bater e matar. Quer misericórdia, mas não oferece misericórdia. Outros querem só o benefício, mas nunca agradecem por causa da amnésia ignóbil que os guiam. Jesus curou quantos cegos? Quantos vieram agradecer? Muitos calam até diante de um elogio, de uma flor oferecida, de um copo d’água diante de tanta sede. Esgalhados faveleiros que não dão sombra nem encosto, deselegantes com pomares generosos. Dizia um político alagoano: “O pior defeito do homem é ser ingrato”. Por outro lado, muito mais virtude tem o que serve e logo em seguida esquece que serviu. Agradecer, por menor que seja o ato cortês, é bom e Deus gosta. Mesmo que seja um agradecimento embaraçoso como o de Zé Panta e seu PORQUINHO.


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