quarta-feira, 9 de junho de 2010

RUA DE SOFRIMENTO

RUA DE SOFRIMENTO
(Clerisvaldo B. Chagas. 10.6.2010)
Para jovens pesquisadores
Já foi dito neste espaço que a Rua Professor Enéas teve início ao lado do curral de gado do senhor José Quirino. Hoje a rua é plana, calçada, comprida e estreita, inda do antigo curral até a ponte General Batista Tubino. A parte de baixo do casario tinha ao fundo, amplo terreno do mesmo proprietário e se estendia até o rio Ipanema. A parte de cima, da rua, a ele não pertencia. Eram os fundos de quintais compridos das casas da Rua Antonio Tavares, como os quintais de Júlio “Pisunha”, soldado Joaquim Manoel, Alfredo Forte, José Urbano, Seu Né Lecor, “Manezinho” Chagas e outros. Quintais que não atingiam a nova rua, eram formados de mato e monturo. Esses matos e monturos na parte de cima, iam dos fundos da casa vizinha a “Manezinho” Chagas, até a segunda travessa em direção ao comércio. Depois iniciava por ali novos fundos de muros das casas do comércio, como até hoje.
José Quirino construiu logo algumas pequenas casas, inclusive, a primeira, encostada ao mourão da cerca de arame farpado do curral. Depois ele construiu mais outras casas um pouco maiores, tudo para alugar aos pobres. Havia um longo vazio após as casas, tanto na parte de baixo quanto na de cima. Na descida do primeiro beco, acesso para o Ipanema, bem na esquina, tinha duas casas particulares, rústicas, pertencentes aos familiares do senhor Cirilo, velho tropeiro do lugar. Após o beco, ainda na parte de baixo, um terreno do senhor Marinho Rodrigues e o curral de gado do senhor Doroteu Chagas que depois passou a ser de “Manezinho” Chagas (ambos desciam até o rio). Algumas casas de lavadeiras mais adiante, por trás dos quintais do comércio, outras casas independentes onde morava o casal “Zé Cambão” e Regina “Cambão”, resistiam na pobreza. O “Gorila” (figura típica) e a “Nicinha” (garota que nadava muito bem ali no poço dos Homens) também faziam parte do local. A Rua José Quirino levou décadas e décadas para ser preenchida em ambos os lados.
O que chamava atenção eram as brigas diárias, com discussões permanentes de várias mulheres que, às vezes, incluíam os maridos nas desordens. Nessa época, moravam ali figuras bastante conhecidas como o “Toinho das Máquinas”, Genésio “Sapateiro”, “Caçador”, Otávio “Marchante” e sua esposa Carmelita que todo dia entrava em discussão com a vizinhança. À tarde, chegava Otávio, do trabalho, com uma faca grande pendurada no coldre e era insuflado para tomar partido nas arengas da mulher. Mas Otávio sempre saía pela tangente. Lembro que certa vez houve uma discussão feroz na rua. Enquanto isso, um camarada tocava uma rabequinha dentro de casa, e não colocou a cabeça para fora uma única vez. Aquele sabia viver! Estava no meio errado.
A rua sem calçamento, entregue a imundície de inverno e verão, certa feita foi visitada por um homem do Paraguai ou do Uruguai (falavam que ele era um sábio) chamado professor Cabajal. Esse cidadão iria ministrar palestra à noite para a sociedade, sob o entusiasmo do doutor Adelson Isaac de Miranda. Chegando mais cedo, percorreu alguns pontos de Santana, inclusive a citada rua. Dizem que durante a sua palestra ele falou encontrar-se estarrecido com o nome de professor dado a uma rua tão imunda e sem expressão como aquela. E que na terra dele, professor era valorizado. Como Cabajal era um homem nervoso e sem papas na língua, deixou a sociedade santanense envergonhada com essa e naturalmente outras observações. Esse constrangimento, o povo da Rua José Quirino, teve que engolir, por conta da má administração dos seus dirigentes. É bom salientar que, mesmo assim, a via continuou sendo chamada oficialmente Professor Enéas (o primeiro professor de Santana) chefe político e senador por inúmeras vezes, no tempo Santana /vila. Enéas já tem o seu nome em um dos três largos comerciais.
Ainda hoje, como já foi dito acima, os quintais das casas do comércio não deixam o trecho, entre a travessa Antonio Tavares e a ponte, ser preenchido por novas residências, pois eles chegam até a linha d’água da rua de baixo; Rua José Quirino, Rua Professor Enéas... RUA DE SOFRIMENTO.




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