quinta-feira, 24 de junho de 2010

QUEBRANGULO

QUEBRANGULO
(Clerisvaldo B. Chagas. 25.6.2010)
O Nome Quebrangulo parece estranho junto a centenas e centenas de outras denominações de cidades amazônicas, principalmente. Na realidade, Quebrangulo (sem circunflexo nenhum) é município alagoano, antigo, situado, geograficamente, no patamar dos 500 metros, cuja cidade, Palmeira dos Índios, no sopé da escarpa, é ponto de referência. Famoso uma vez por ter nascido ali o escritor Graciliano Ramos, o núcleo volta à fama, agora pela tragédia das águas que também castigaram outros municípios alagoanos e de Pernambuco. Ocupada há muito pelos índios chucurus e por quilombolas, a região era pródiga em peixes e caças, como os queixadas que viviam por ali. Um dos chefes quilombolas, habilidoso e de coragem, era chamado pelos companheiros, Quebrangulo, significando para eles, “matador de porcos”. Assim, o lugar ficou com a denominação, mudando, depois, para Vitória e voltando mais tarde ao antigo nome Quebrangulo. A cidade foi formada às margens do rio Paraíba do Meio e do riacho Quebrangulinho, por isso mesmo, cheia de pontes.
No primeiro quarto do Século XX, os sertanejos que viajavam a Maceió, deslocavam-se a cavalo até Viçosa onde embarcavam no trem até a capital. Depois a via férrea chegou a Quebrangulo, encurtando um pouco essa viagem de sacrifícios. Em seguida o trem chegou a Palmeira dos Índios, muito mais perto do Sertão, facilitando essas idas e vindas. Mas, na metade do século, o asfalto Maceió ─ Palmeira também foi construído, mudando radicalmente tudo. Os viajantes do Sertão usariam, a partir daí, uma viagem direta e rodoviária Santana ─ Palmeira ─ Maceió. Quebrangulo virou contramão para o oeste do estado.
Passei em Quebrangulo apenas duas vezes na ida e na volta à vila São Francisco. Fiquei impressionado com as casas tão perto do rio, o pequeno patamar do comércio e a posição estratégica da igreja. Tive vontade de retornar e fazer pesquisa sobre a cidade que tem uma presença diferente. Nunca me foi possível. Da sua Quebrangulo, falava, entusiasticamente, o seresteiro José de Souza Pinto (o Juca Alfaiate). O nome de origem da terra, as pescarias no Rio Paraíba do Meio e distribuição de peixes à pobreza, através de Belo, seu pai, enchiam o Juca de saudades. Viera de Quebrangulo passear em Santana e daqui somente saiu para o cemitério, levado pelo mal contraído em criança, no rio dos quilombolas.
Agora, infelizmente, a terra de Graciliano, do chefe matador de porcos, das tradições folclóricas, de um pedaço grande da história de Alagoas, cai na malha fina dos dramas das chuvas, das cheias descomunais, da irresponsabilidade de muitos. E nesse momento tão desesperador que queremos dizer tudo (nada que ninguém ainda ignore) apenas transferimos da boca para o coração os sentimentos de pena, solidariedade e revolta. Vamos agora ajudando nos donativos e em tudo que estiver ao alcance, para os nossos irmãos de Branquinha, Rio Largo, Atalaia e outros bravos municípios como QUEBRANGULO.


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http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2010/06/quebrangulo.html

Um comentário:

  1. Estimado Professor Clerisvaldo parabéns pela descrição da cidade de Quebrangulo e evidentemente parabéns pelos seus escritos que são excelentes.
    Um abraço

    Malta

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