domingo, 6 de junho de 2010

NO TEMPO DOS ENGRAXATES

NO TEMPO DOS ENGRAXATES
(Clerisvaldo B, Chagas. 7.6.2010)
Para João Neto de Dirce e jovens pesquisadores
O espaço que hoje forma a praça defronte a igreja principal de Santana, vem assim funcionando desde a fundação da cidade. A evolução física da igrejinha dedicada à avó do Cristo (1787) e o casario que se delineava formando o comércio central foram deixando sempre do mesmo jeito o terreno comprido que servia as feiras semanais. Somente em 1931, no governo do primeiro intendente interventor, Frederico Rodrigues da Rocha, 1930-31, o espaço batido virou praça de verdade, recebendo a denominação de “Praça João Pessoa”. Nessa época já existia a casa que pertenceu ao maestro “Seu Queirós” (hoje Museu Darras Noya) e o terreno vazio entre a casa e a Igreja Matriz de Senhora Santana (atualmente salão paroquial). Também existia o grande prédio de primeiro andar, no lado esquerdo da Matriz, bem como os chamados “prédio do meio da rua” e o “sobrado do meio da rua” (estes dois, demolidos no governo Ulisses Silva (1961-65).
Durante a década de 60, já com o nome de Praça Coronel Manoel Rodrigues da Rocha ─ totalmente moderna para a época ─ esse logradouro abrigava pequeno número de profissionais a quem denominávamos engraxates. (Certo que o professor de Português, bancário Antonio Dias, nos falava que a palavra engraxate, não existia. Mas era diferente, charmosa, regional, melhor de que engraxador). Depois muitos engraxadores surgiram e, a praça passou a concentrar cerca de quinze ou mais desses limpadores de sapatos. Alguns foram ficando famosos, porém, um começou lentamente a se destacar, passado a ser o mais procurado de todos. Então, só se enxergava outro engraxate, quando Zequinha estava lotado de serviços. Queremos dizer com isso que, além dos clientes que sentavam à sua cadeira diferenciada, havia ainda os vários pares de calçados enviados para ele, espalhados em torno da cadeira. Bem, o segredo é que todos achavam que Zequinha era o melhor, punha mais brilho, fazia um trabalho mais perfeito. Dessa turma de engraxates da praça, só lembro os nomes Zequinha e “Cololô”, filho do Sérgio que foi nosso gerente da Fazenda Timbaúba. Depois, a moda dos engraxadores foi passando, escasseou a praça e virou número zero.
No sobrado do meio da rua, entre as casas comerciais de autopeças (Arquimedes) e o armarinho “A Triunfante” (Manoel Constantino), lado da frente, tinha cativo lugar em cadeira alta, o profissional isolado “João Engraxate”, que muito servia aos caixeiros-viajantes. Era o mais antigo. João, baixo, forte, calvo, idade avançada, era pai do mais famoso cantor santanense de nome Cícero, conhecido por Cícero de Mariquinha, nome da sua mãe. Não me lembro de outros, da época, especificamente.
No Governo Genival Tenório (1978-82), alguns engraxadores surgiram e ficaram abrigados sob uma frondosa algarobeira no centro da praça. Alguém colocou alguns saguins na árvore e os próprios engraxates alimentavam esses pequenos macacos calitriquídeos. Depois, tudo acabou. Era uma época divertida, NO TEMPO DOS ENGRAXATES.






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