domingo, 7 de março de 2010

NINGUÉM TEM RAZÃO

NINGUÉM TEM RAZÃO

(Clerisvaldo B. Chagas. 8.3.2010)

No início da ditadura militar brasileira, Humberto de Alencar Castelo Branco foi muito visitado. Dizem que em uma dessas visitas, foi um usineiro (antigo senhor de engenho) endividado, pedir empréstimo. Teria dito duramente o militar que ele vendesse uma das três usinas que possuía e pagasse sua dívida, sem precisar de empréstimo. Isso acontece muito entre as pessoas singelas e de boa índole da área rural. Estando em dívida, o agricultor defende-se com a venda de um bode, um porco ou uma vaca para saldar o compromisso. É duro e contraproducente, porém, quando o cidadão desequilibra-se em suas finanças e possui apenas a casa de morada. A sugestão de que venda o seu abrigo, a casa dos seus filhos e esposa (e às vezes netos), faz calar fundo o homem honesto. Não raro o credor é rico e bem poderia aguardar a recuperação do seu semelhante. O motivo social e psicológico que levaria o pai de família a ser expulso da própria casa juntamente com os filhos, é de cortar coração. Mas há quem cobre até o sangue daquela vítima cheia de boa vontade.
O caso individual acima citado faz lembrar o que estar acontecendo com a Grécia. Esse país que faz parte da União Europeia, endividado, enfrenta no momento, uma crise financeira e social que mexe profundamente consigo e com o continente. Procurando saída para essa situação, aquele admirável país que tantos serviços prestou a civilização ocidental (ver crônica: “Falando Grego”), agora é motivo de brincadeira. Prevíamos aqui a reação da Alemanha, carro-chefe da Economia da UE. Por sugestão de representantes do partido de coalizão de centro-direita da chanceler Ângela Merkel, foi publicada no jornal Bila a brincadeira-verdade. Sugere líderes que a Grécia venda uma ou mais ilhas para pagar o que deve. A nossa reação foi muito antes do pronunciamento do primeiro-ministro grego George Papandreau: “Não é sugestão séria. Há formas mais imaginativas para lidar com déficits do que a venda de ilhas gregas”, reagiu Papandreau. Se a sugestão fosse ao nosso país, seria incentivo para vender as ilhas do Bananal, de Marajó, de Fernando de Noronha ou parte de estados brasileiros. Nenhum país abre mão de parte de seu território para pagar dívidas. É incrível que essa sugestão tenha vindo de uma das nações mais ricas do mundo. Pedaços do torrão pátrio, só deixam a tutela se forem arrebatados em guerras como a Califórnia, o Texas, o Novo México e partes da Palestina. A Grécia é composta de continente e ilhas que formam uma nação. Qual a pessoa que quer se desfazer de um braço, de uma perna, de um olho, para pagar dívida? A Alemanha não foi feliz no seu pronunciamento. Louve-se a atitude diplomática do ministro grego George Papandreau. Se fosse aqui em Santana, na Câmara Municipal, mandava-se logo tomar vergonha na cara, mas o caso foi muito distante da terra do rio Ipanema. Isso nos faz lembrar o ditado popular: “Na casa em que falta o pão, todos falam e NINGUÉM TEM RAZÃO”.


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