quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

AS DUAS MORENAS

AS DUAS MORENAS

(Clerisvaldo B. Chagas. 10.2.2010)

Mesmo sem ter conhecido ainda o livro de crônicas “Fruta de Palma”, do meu conterrâneo e escritor Oscar Silva, frequentávamos a serra do Gugi. Situado a 12 km de Santana do Ipanema, o belíssimo relevo faz parte do maciço de Santana, encravado em plena caatinga sertaneja. Com a sua irmã, serra do Poço, imitava o paraíso descrito por Oscar em uma das suas crônicas - “Miragem da Serra”- e por nós em outros escritos. Quando com os nossos dezesseis, dezessete anos, frequentávamos o monte todos os domingos. Saíamos de Santana com um pequeno grupo, a pé, e sempre encontrávamos um papagaio na última casa do Bairro São Vicente. Andávamos bastante, passávamos pelo sopé da serra da Camonga, descíamos o ladeirão até chegar à porteira paralela que dava entrada para o Gugi. Faziam parte dessas constantes caminhadas, o meu amigo Francisco Assis e Mileno Carvalho, ótimo companheiro da nossa juventude. Ali naquela casa da porteira, havia u’a morena muito bonita, cabelos pretinhos e longos que nos chamavam atenção. Sempre parávamos a jornada por ali para pedir água, de mentirinha, só para tentar um flerte. Que nada! A morena servia copo e caneco à mão, mas não saía o menor gesto que nos encorajassem. Prosseguíamos a caminhada, vadeávamos o riacho Gravatá, afluente do Panema e chegávamos a nosso ponto de apoio, a casa do Jonas Brandão e dona Creusa. Dali, subíamos a serra até o sítio de dona Neném, família dos Carvalho. No sítio havia muitas frutas, entre elas a manga tipo “gobom” de caroço mínimo e muito doce, o nosso alvo. Tomávamos garapa no sítio de Olavo, velho que tinha um engenho de canas excelentes. (No futuro colocamos esse pedaço de chão em nosso romance “Deuses de Mandacaru”, inclusive com o personagem e sítio do Olavo). Na descida, tomávamos banho em poço aprazível do riacho afluente e, à tarde, estávamos retornando à Santana de olho na morena. Nada! Dezenas de anos depois, como candidato a prefeito, revi o trajeto do Gugi. A morena morava na mesma casa e descobri que na atualidade era mãe de um jovem colega de trabalho.
Essa recordação também puxa outra. Quando solteiro frequentávamos o sítio Amargosa, município de Monteirópolis. A casa frequentada tinha várias moças bonitas e por isso mesmo atraía rapazes da redondeza. Em uma noite de festa, havia muitos convidados. Lá pelo “oitão” da residência, um rapaz mandou chamou uma das moças. O portador indagou qual era. O rapaz disse em voz alta: “a morena mais bonita da casa”. De repente surgiu o dono do sítio meio quente da “branquinha” e falou abusado e grosso às ventas do sujeito: “A morena mais bonita desta peste sou eu!” Nem precisava dizer, mas o rapaz demorou pouco e evaporou-se na noite mais amargosa ainda.
Morenas belíssimas continuam brotando na região sertaneja. Flores de cactos que se exibem em tempo de seca. Nessa matéria não temos inveja de outras regiões. Basta o exemplo DAS DUAS MORENAS.



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