sexta-feira, 18 de setembro de 2009

BENDITOS MASCATES

BENDITOS MASCATES
(Clerisvaldo B. Chagas. 18.9.2009)

Recife e Olinda sempre viveram em rivalidade, principalmente no início do século XVIII. Recife era habitado por comerciantes da região; Olinda abrigava fazendeiros ricos que menosprezavam os que moravam no Recife. Na época, Olinda já era uma vila. Isso fazia com que as condições de mando e prestígio prevalecessem sobre o território, inclusive com a cobrança de impostos sobre Recife. Sendo uma vila, Olinda podia possuir câmara municipal e manter um pelourinho, tronco de castigar negros e marginais. Pela sua posição geográfica e pelo trabalho dos comerciantes, o Recife se desenvolveu e terminou pleiteando também uma condição de vila. A metrópole entendeu que era justo o pedido do Recife e concedeu essa invejável posição. Os de Olinda chamavam os do Recife de mascates, sendo essa palavra pronunciada com desprezo. Quando Recife passou à vila, os aristocratas de Olinda não aceitaram e invadiram a localidade rival. Com a investida dos homens de Olinda, foi destruído o pelourinho e destituído o governador. Recife não ficou inerte. Reagiu a invasão prolongando uma luta entre as duas vilas que durou perto de um ano. Todavia os fazendeiros de Olinda não se conformavam com o cenário e até ameaçaram romper os seus laços com Portugal. Caso isso acontecesse, Olinda tornar-se-ia uma república independente. Despertado para o perigo em potencial, o governo português decidiu intervir de modo firme no conflito. Acabou de uma vez com a luta que foi chamada de GUERRA DOS MASCATES.
No Sertão alagoano, década de cinquenta do século passado, a figura do mascate estava em evidência nas feiras de cidades e vilas. Comerciantes de tecidos, armarinhos, cordas, miçangas... Eram transportados de Santana do Ipanema para Olho d’Água das Flores, Carneiros, Pão de Açúcar... Aonde armavam suas toldas de lona ou espalhavam pelo chão batido as mercadorias. Os mascates eram criaturas simpáticas que saíam cedo e retornavam após as feiras livres. Muitas vezes, em tempos de inverno ou trovoadas, enfrentavam as cheias de riachos como o João Gomes (ainda sem ponte) ou a fúria das águas do Ipanema em canoas rústicas e negras, como opção. A cobrança das passagens era realizada nas proximidades do destino, quando os caminhoneiros paravam ao lado da rodagem. Em cima da carga de homens e objetos, passageiros andavam em franja nas laterais com os pés do lado de fora, sentados nas próprias mercadorias. Outros preferiam o centro da carga. O cobrador — geralmente o próprio motorista — equilibrava-se pelas tralhas pegando dinheiro, passando troco, mantendo a cara fechada.
Foram os mascates, depois, os novos comerciantes fixos de Santana do Ipanema. Todos progrediram em os mais diversos ramos de negócios. Heróis de um tempo difícil, eles ajudaram a consolidar o comércio sertanejo da Rainha do Sertão. Qualquer homenagem ainda seria pouca diante desses que aqui constituíram famílias, enriqueceram, educaram os filhos e alargaram os horizontes da terra de Santa Ana. BENDITOS MASCATES!

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