quinta-feira, 20 de agosto de 2009

CONTINUA A PAZ

CONTINUA A PAZ

(Clerisvaldo B. Chagas. 20/21.8. 2008)

Voltando a comentar sobre Santana do Ipanema, antes da ponte sobre a BR-316, onde foi formado um açude e surgiu também o Bairro Barragem, alguma coisa mudou. Com a falta da ponte sobre o rio, os automóveis que chegavam pela margem direita, rodeavam por um lugar denominado Volta do Rio. Era ali aonde o Ipanema chegava do norte e fazia uma curva para o leste. Como ainda era distante do centro, a Volta passou a ser lugar de passeios aos domingos, principalmente para os garotos que frequentavam o catecismo na Matriz de Senhora Santa Ana. O escritor Raul Monteiro dedica duas crônicas a Volta. Uma sobre a chegada do automóvel de Delmiro a Santana, outra sobre personagem que morava por ali de nome Satuba.

Visitando recentemente a Volta, notamos o estiramento do Bairro Barragem em direção ao Poço das Trincheiras. Pela parte de trás, surge um novo bairro chamado pelo povo de Clima Bom, pois, sendo alto e quase plano, recebe toda ventilação vinda pela Volta do Ipanema. Ainda pelas margens da BR-316, o casario do centro da cidade conseguiu encostar à ponte da Barragem, cujo leito está assoreado. É bem dinâmico o movimento na BR que se inicia logo ao amanhecer. O Bairro Barragem já possui alguns tipos de serviços como oficinas mecânicas, mercadinhos, churrascaria, bares e matadouro de bovinos.

Olhando, entretanto, pela parte baixa, no lugar exato onde o Ipanema faz a curva, a paz continua como antigamente. A Rua Manoel Medeiros conseguiu também encostar as suas residências a Volta do Ipanema. Mas, ao se chegar à margem propriamente dita, o passado retorna imediatamente. É a paisagem bucólica da área rural. As águas descem mansas por entre pedras e areia; os burros pastam nas ervas rasantes; as vacas holandesas caminham no sopé da barreira, do outro lado, e os garranchos cinzentos resistem às águas nas lascas dos pedregulhos. Lá adiante, na outra margem da Volta, casa confortável na confluência do riacho Salobinho; urubus passeando nos arredores do matadouro; tapera de parede caída perto dos lajeiros.

Quando se olha do meio do rio à jusante ou a montante, vem a impressão fortíssima de que o tempo parou em meados do século passado. Enquanto os sons da festa de Santana parecem distante dali, no Panema reina um silêncio de ontem e de paz. Uma paz longa, sem fim, infinita, que acalma que suaviza que desintoxica e que transporta.

Uma coisa, entretanto, não para de incomodar. O lixo, essa praga urbana que tomou conta dos núcleos humanos. A falta de cooperação do povo que insiste no hábito perverso de afogar os cursos d’água com entulhos os mais diversos.

E se o escritor Raul viesse de novo rever a Volta que ele descreveu o que diria da casa de Satuba? O que falaria sobre o areal que não deixava passar o automóvel lustroso de Delmiro?

Enquanto isso o rio Ipanema continua o seu novo fadário: agora não abastecendo mais à cidade — farta de água doce — mas sim, levando o lixo e as areias das encostas; vez em quando mantendo a tradição de levar gente também. Todavia, bravo, silencioso e servidor no seu vale repleto de quietude. Ipanema, “Pai de Santana”, lugar onde CONTINUA A PAZ.

Acesse o blog do escritor: http://clerisvaldobragadaschagas.blogspot.com/


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